sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O início da confusão




Muitas vezes nos confundimos com nossos parceiros, com nossos amigos. Não sabemos até que ponto nós pensamos com nossas cabeças ou com a dos outros. Ficamos confusos quando concordamos quando era o outro que queria. Nunca somos nós mesmos e sim temos em nós uma parte do outro. Isso porque nos esquecemos de por em prática a frase fundamental de todo relacionamento e de toda existência: “eu sou eu, você é você”.

Numa análise profunda devemos ir até Heidegger. Ele fala do “Dasein” o ser que está. Somos e estamos e isso é inegável. Mas não temos resposta para a pergunta fundamental do ser: o que é ser, o que é essa pergunta? Nessa paralisia devemos recorrer ao outro. Não que o outro nos ilumine, ele está tão confuso como nós. Mas o outro nos alimenta com essa dúvida e nós compartilhamos, vendo esse estado de perplexidade com o olhar alheio por que o nosso olhar está nublado. Ao mesmo tempo o outro enxerga com o nosso olhar. Buscamos apoio, iludimos o outro e outro nos ilude.

Sobre o que não pode ser dito deve guardar-se silêncio, já disse Wittgenstein. No lugar de ficarmos em silêncio, o nosso silêncio, o nosso eu, sem contaminação pelo silêncio do outro, nós dizemos. E é um dizer vacilante, oco, que não se sustenta. E na falta de sustentação escutamos alheio e é como ele fosse nosso. O outro carrega a insuportável leveza do dizer indizível e procura suporte no nosso dizer. O que não devia ser dito transforma-se em ruído num eu que escolhe o outro como alicerce, o mesmo outro que escolhe esse eu para a mesma finalidade.

Pascal sentia a angústia dos espaços infinitos. Essa angústia é muito pesada, a religião pode ser um alívio. Mas não conseguimos ficar a sós com ela e temos que transmiti-la a outrem que sente a mesma angústia. Contudo essa angústia é outra e esse caráter alheio nos fascina e absorvemos para consolar-nos da nossa própria. E o mecanismo se repete indefinidamente num número finito de outros. Mas o jogo de espelhos das angústias repartidas torna-se um infinito em potencial. O eu e o outro dissolvem-se criando-se um ritual de passagem para um eu coletivo onde não há a possibilidade do outro.

4 comentários:

Anônimo disse...

Quem é você?

Anônimo disse...

Você é você.Eu sou eu. Juntos, formamos um casal MARAVILHOSO!!!
Beijinhoooos

viajante disse...

Você, eu, sempre entre aspas, como disse C. Lispector

Unknown disse...

Não vale elogio de namorada!